quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Mãe Água



Yemanjá vem me contar
Lindas histórias do alto mar
Nas pérolas que traz nas mãos
Sabedoria a me ofertar

Rainha do Mar vem me dizer
Do reino por merecer
Que alcança quem espera
Quem cultiva, ama e crê

Janaina vem enxugar
As lágrimas que correm cá
Sorrindo vem me lavar
Das tristezas do desamar

Yemanjá vem cedinho
Ensinando devagarinho
Que as ondas em redemoinho
Também nos beijam de mansinho

Minha mãe que me vigia
Peço a tua alforria
Minha Mãe Virgem Maria
Auxilia-me todo dia

Suzany

domingo, 9 de agosto de 2009

Me dê o braço


Das lembranças que guardo da infância, uma é bastante especial. A última vez que me lembro dos meus pais saindo juntos comigo para algum evento. Não lembro a idade que tinha, provavelmente uns cinco ou seis anos, pois tinha sete quando eles se separaram. Fomos para uma apresentação do “Carnaval no Gelo”, como era chamado um grupo internacional que se apresentava
pelo mundo todo. Para nossa cidade, a visita era um acontecimento.
Fui com eles, mas na condição de ficar na casa de um amigo do casal, caso o espetáculo fosse proibido para menores se eu não pudesse entrar. O evento era à noite e nessa época crianças não costumavam circular neste horário.
Mesmo com a minha pouca idade, gostava de ver a forma como meu pai se comportava com a minha mãe quando saíam. Era algo solene, respeitoso, como a querer a dizer para o mundo; Esta é minha mulher. Sou bem satisfeito em tê-la. Olhem como ela é linda, e é minha.
Do espetáculo, para ser sincera, não me lembro de nada. O que ficou na minha memória foi a ida até o local. Ou melhor, o pequeno, mas solene espaço de tempo em que minha mãe deu o braço ao meu pai e saíram andando pela rua, imperiosos, rei e rainha com sua princesinha de lado.
Quando eu já estava um pouco mais crescida, tomei o lugar da minha mãe, que para ele, não mais existia, ao seu lado. Sempre que saíamos ele pegava o meu braço e colocava entre o seu e íamos os dois felizes pelas ruas.
Eu adorava andar com meu pai. Embora a gente parasse a cada 10 metros, porque na época ele era jogador de futebol, e uma pessoa bastante conhecida na cidade. Quando as pessoas me elogiavam, ele engrossava o cordão enumerando as minhas virtudes. Gostava de falar, que já era alfabetizada das minhas altas notas na escola, que eu era a primeira da turma, etc... Às veze eu me encabulava com tais comentários, mas sempre o desculpava dos excessos, pois era meu amado pai. Ele adorava exibir as filhas, eu e minha irmã, e notava-se o orgulho que sentia de nós duas, uma em cada braço.
Meu pai já não está comigo, mas as lembranças boas ficarão para sempre. Além, muito além das lembranças, o sentimento bom de amparo, confiança, satisfação, e presença constante em toda minha vida. Às vezes, quando a vida não está fácil, sinto falta de sua presença, mas agradeço a Deus
O fato de ter tido um grande pai.
Hoje em dia, não seu usa mais andar de braços dados. Os namorados, nem se dão mais as mãos para passear. Meu companheiro deve até estranhar quando algumas vezes eu procuro seu braço quando caminhamos. Ignora que ajo por instinto. Foi assim que aprendi e pratiquei a vida inteira. Tento resgatar um tempo bom, um momento de alegria. Já ouvi dizer que a felicidade está nas coisas simples, e concordo plenamente. Nada tão simples do que uma filha dar o braço ao pai e sair pelas
Ruas, mas a magia que este pequeno ato em mim operava, me acompanha a acompanhará para sempre, num halo de luz e bem-estar eternos..
Um feliz dia dos Pais, onde você estiver, meu beijo, meu agradecimento e meu a braço.

segunda-feira, 16 de março de 2009

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Casa da Lua


Descobri que além da melancolia do final do ano, algo mais me espreitava: A temida TPM. Eu que há alguns anos me gabava de não tê-la, depois dos 40 vejo-a apresentar-se com força total. Se eu pudesse, nestes dias, me isolava. Eu que sou sociavel por natureza, não tenho vontade de ver, nem muito menos falar com ninguem. Fico soltando os cachorros no primeiro que aparece, e o primeiro é sempre o mais proximo, os que mais amo. Num passado ainda bem proximo, as mulheres se resguardavam mais nesta fase. A inclusão no mercado de trabalho, as variadas e muitas vezes exaustivas obrigações dia a dia da mulher moderna, a afastaram um tanto de sua natureza. Daí surgiu a TPM. O corpo pede para ficar quieto, mas que mulher pode aquietar-se quando tem tantos compromissos para dar conta. A mente almeja recolhimento, mas o mundo pede trabalho, dedicação, superação, atividade. Então sofremos todos em conjunto. A mulher que até sem o saber, mas sentido os sintomas, entope-se de medicação, e os mais proximos que são obrigados a conviver com o produto desta inversão: Uma mulher estressada, tepeemizada (eis um novo termo).
Meu sonho é construir uma "Casa da Lua", assim como algumas tribos indigenas, para onde as mulheres se recolhiam e entravam em contato consigo mesmas, nesta fase. Um dia quem sabe eu consiga, mas daí já estarei na menopausa e este é outro delicado capitulo.

terça-feira, 30 de dezembro de 2008

retrô doi, mas conforta


Dia 30 de dezembro. Desde o natal vinha buscando me esconder da melancolia que me espreita . Por que será que esta época do ano nos deixa tão suscetíveis?
Busco mil atividades, sabendo de antemão, que em algum momento não mais conseguirei evitar a escrita. Perscrutando a alma dou de cara com a dita cuja. Encaro-a de frente, pois não tenho para onde correr. Ela fala-me dos que já foram, e a dor que lateja insensantemente, chamada saudade.
Tenho filhos, mas eles não sao mais os filhos da infância. Com os netos, busco viver novamente aquela sensação que só crianças podem nos dar. Mas meus filhos bebês, pequeninos, estão perdidos para sempre no real. Felizmente sobrevivem em minha memória.
Sinto tambem saudades de filha ser. Falta do colo, das cantigas de ninar, do cuidado, do carinho.... menina...não bota o pé no chão frio, vc acabou de acordar.
Da satisfação do meu pai: -Minha filha é a primeira da turma... minha filha é jornalista.
Saudade de tanta gente que não morreu, mas que não vejo mais.Pessoas que já morreram e que demorarei a ver. Pessoas que me fizeram bem, que me viram crescer, que me ensinaram, me acompanharam, me prepararam para a vida. Pessoas que apenas me viram passar. Pessoas que eu me acostumei a ver passar.
Não tenho vergonha de chorar de saudade. Descubro nesta retrô que entristeço-me porque sou feliz. Choro porque recordo com alegria, mesmo com melancolia, que sentir saudades é lembrar do amor, e isto eu tive de sobra.

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Morte e Vida


Dei de cara novamente com a morte. Quem disse que é fácil? Ela olhou-me meio debochada, como a dizer: -É isto mesmo, estou por aqui de novo e não há nada que você possa fazer.

Mudar o rumo da morte eu não posso, mas pude sim fazer alguma coisa. Elevei o pensamento e busquei a vida que estava ali, do outro lado, tão tênue e tão próxima, mas do outro lado. E lá vislumbrei mensageiros de vida, auxiliando aquele a quem a morte espreita.
A morte encarou-me e disse:- Vou dar uma saidinha, mas nem se anime, porque eu volto. Eu disse até logo para ela. No outro dia tive a noticias de que como por milagre o paciente havia melhorado bastante depois que as visitas partiram e passara a noite bem.
Tive tambem noticias de vida. Ela falou-me pelo telefone que vem dar o ar de sua graça novamente. Mais um neto. Mais uma oportunidade criada. Agradecida a Deus, concluo que a vida e a morte fazem parte de um mesmo plano divino e que comprendê-las depende do ângulo que as vemos e vivemos. Se estamos vivos aqui, no plano terreno, estamos mortos no plano espiritual e vice e versa. E o plano divino é sempre de vida que se renova a cada ciclo.
Quando me deparar novamente com a morte, direi: -Agora, que eu compreendo que você não existe, pode entrar, a casa sua.

quarta-feira, 30 de julho de 2008



Mendigos da Paz

Durante os finais de semana, é comum nos depararmos ao cruzarmos a cidade, com uma espécie peculiar de pessoas. Estes seres, que quase sempre portam um saco pequeno na mão, e outro maior nas costas, nos abordam para simplesmente pedir. Eles costumam postar-se nos cruzamentos, pelas ruas da cidade, batendo de porta em porta, pelas praias, praças, enfim, pelos lugares onde haja gente disposta a contribuir.

Muitas pessoas se sentem incomodadas,e até podem pensar, - mais um a pedir esmola- fato que os leva a retraírem-se e negar um pequeno auxilio.
Cada um no seu direito. Se essas pessoas parassem para procurar saber e compreender qual a intenção desses espíritos, com certeza, jamais negariam aquilo que não lhes falta.

Geralmente, não pedem apenas. Deixam sempre uma bela mensagem escrita de amor e otimismo para aqueles que contribuem ou não. Apesar da rapidez do contato, agem como um sopro diáfano na turbulência do dia-a-dia, porque transmitem a paz. Acima de tudo, ensinam pelo exemplo. O belo exemplo de
Disporem do seu tempo de descanso, de convívio com a família, de momentos de lazer para ajudarem ao próximo. Sim, porque não pedem para si mesmos, e sim para dezenas de instituições de caridade que necessitam da bondade alheia para darem cumprimento a sua missão de fé. Dão o exemplo do desapego, da suplantação do ego, da perda da vaidade pessoal, da obstinação, da paciência , do perdão, em total anonimato. Quem dá não sabe nem o nome de quem está realizando o trabalho, como também, quem recebe, nos diversos orfanatos e abrigos para idosos, também não sabe qual mão amiga executou aquela tarefa.

Convenhamos que não é tarefa fácil, colocar um saco nas costas e caminhar de sol a sol, no clima que temos, durante toda a manhã. O que dizer dos dias de inverno, então, quando a chuva castiga quem não tem mais mão disponível para segurar um guarda-chuva. Essas pessoas se deparam com todo tipo de gente. Há os que acolhem, que oferecem um copo d’água, e até um lanche, em contrapartida, há ainda os que batem a porta na cara, os que xingam, os que atribuem utilização escusa do óbolo, pelo trabalhador.


Os que realizam esta tarefa santa dizem , que as forças tendem a aumentar durante o tempo que ela dura. À medida que o saco de alimentos vai enchendo, parece que vai ficando mais leve. No decorrer da caminhada sente-se sempre uma grande paz interior, e ao final dela uma alegria infinda. A alegria do dever cumprido. Um dever que não foi imposto, mas escolhido como tarefa, de ajuda ao próximo e principalmente a si mesmo
As pessoas em questão praticam a verdadeira caridade de que falava o Cristo, que é o amor a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como si mesmo. No ato de livrarem-se de um tanto de imperfeições, estão praticando a caridade para si, ao mesmo tempo que auxiliam aos que respondem ao chamado da caridade encontrando o veículo para a prática, e finalmente auxiliando os que recebem o produto final da labuta.

É um trabalho organizado e sério, realizado pela Religião Espírita kardecista. Existe uma Escola Central do Quilo, que orienta à entidades espíritas que desejam realizá-lo e distribuem o que foi arrecadado. Cada Pessoa disposta a trabalhar recebe uma carteirinha de Legionário do Quilo, para sua identificação. Ao termino do trabalho todos se reúnem em local combinado para a contagem do dinheiro e a pesagem dos alimentos, na presença de todos os participantes e de um responsável da Escola Central que encarrega-se de levar o produto do trabalho daquele dia ao seu destino. Tudo documentado e checado.

Pelo exposto, vamos olhar com outros olhos e com outra disposição, esses seres chamados Legionários do Quilo quando eles baterem à nossa porta, ou no vidro do nosso carro, pedindo e trazendo esperança.

Deixo ainda aqui o exemplo de humildade praticada por anos de apostolado, do implantador da campanha do Quilo em nosso Estado, o saudoso Elias Sobreira. Ele contava que uma vez, fazendo a campanha, estendeu a mão direita para receber o auxilio, e o homem a quem pedia cuspiu na sua mão. Ele suavemente guardou a mão direita e estendeu a esquerda dizendo: “Meu irmão, o meu você já deu, agora me dê o das criancinhas”.